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Será que estamos nos desconectando do que realmente importa??

Deitei na rede e aninhei em meu ombro Aurora, minha filha de quatro meses. Seu rostinho virado para mim, seu hálito quente no meu pescoço, o nhec-nhec da rede, a noite morna de estrelas e lua crescente pela metade e grandes nuvens amarelas se movendo devagar. E aí tirei o celular do bolso e entrei no facebook.
Como quase todo mundo da minha geração, me deixei encantar pelos smartphones e sua promessa de conexão permanente às notícias, às pessoas, ao mundo. As fotos de Aurora, por exemplo, dia sim dia também, são vistas (e curtidas) por amigos do outro lado do mundo, o que me dá a chance nunca antes possível na história da humanidade de alargar minha rede social para o planeta inteiro e de deixar amigos distantes acompanharem meu cotidiano.
É maravilhoso estar perto de minha amiga Violet, radialista do Zimbábue, exilada em Londres, com quem troco comentários casuais sobre política, sobre nossos planos de férias, sobre os sorrisos de Aurora. É incrível poder viajar e ainda assim conseguir olhar de frente para os parentes que ficaram em casa, e conversar com os olhos nos olhos deles, como se estivéssemos todos juntos. É um sonho poder colaborar num projeto com gente que está a cinco mil quilômetros de distância, palpitando, trocando ideia, com a casualidade de quem está debaixo do mesmo teto.
Mas no facebook não venta, nem chove, nem faz sol. Pelo skype não passa calor, nem dá para abraçar e sentir o pulso suave do outro. Essas maquininhas nos conectam ao mundo de um jeito quase mágico – mas elas não são o mundo. Na realidade, elas nos tiram do mundo. Cada minuto com a atenção capturada pelo telefone é um minuto no qual não estou com Aurora, nem balanço na rede numa noite morna de lua crescente. Minha mente está em outra rede, digital, ligada na mesma sucessão interminável de fotos de animais fofos, vídeos engraçados e disputas políticas que envolvem o resto dos meus dias.
E aí ficamos todos nós conectados uns aos outros , cada um com seu aparelhinho – mas nos desconectamos, todos nós, do mundo aqui fora. Viramos nuvens, cruzando o céu sem encostar no chão e nas pessoas sobre ele. E é aqui no chão, abraçados a quem amamos, que se vive a vida.
Não vou cair nessa. Não desta vez. Guardei o celular de volta no bolso, olhei para a carinha serena de Aurora e fiquei vendo-a dormir. Não, espera, deixa eu só postar uma foto no instagram.

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